sexta-feira, 23 de junho de 2017

Mestres da Medicina em Sergipe, por Antônio Samarone


Publicado originalmente no Facebook/Antonio Samarone, em 21 de junho de 2017.

Mestres da Medicina em Sergipe. 
Por Antônio Samarone.

Dalmo Machado Melo (91 anos), nasceu num sábado de aleluia (15/04/1926), em Piaçabuçu, com lábio leporino duplo. Os primeiros anos da infância foram difíceis. Aos oito anos foi para Salvador, realizar a cirurgia e estudar. Foi interno do Colégio Marista. Dr. Dalmo fica por lá até a formatura, em 15/01/1953. Em seguida, estabeleceu-se como médico parteiro em Aracaju. Residiu os cinco primeiros anos dentro da maternidade Francino Melo, do Hospital de Cirurgia, atendendo a pobreza de Sergipe. A forma carinhosa como tratava as parturientes, o talento, a dedicação, sempre pronto para atender, a qualquer hora, em qualquer dia, levou que a sua fama corresse pela cidade. Em pouco tempo, o Dr. Dalmo era o parteiro preferido da cidade, dos ricos e dos pobres. Foi médico das esposas dos ferroviários de Sergipe. Fez o parto de muita gente.

A fama e a grande clientela levaram-no a criar na década de 1960 a Clínica Visitação, a primeira clínica obstétrica privada de Sergipe. Em pouco tempo, o estilo humanista, a falta de vocação empresarial, foram suficientes para o insucesso. A clínica fechou. O Dr. Dalmo continua a sua missão como simples parteiro.

A sua habilidade destacada permitiu a sua escolha para professor da Faculdade de Medicina. Os seus alunos aprendiam muito nos disputados plantões com o Dr. Dalmo. A paciência, o respeito com os alunos; após cada procedimento, ele fazia questão de reunir a turma numa pequena sala, e discutir os casos, explicar, justificar o que tinha feito. O Dr. Dalmo foi o mestre de várias gerações.

Esse grande médico a moda antiga, que sempre colocou a paciente em primeiro lugar, não transformou a sua profissão num comércio, não acumulou riquezas, e pagou caro com o envelhecimento. Descobriu aos 80 anos, que o que ganhava com a aposentadoria não era suficiente para cobrir as suas despesas, e foi obrigado a ir trabalhar como médico de família no SUS, em Muribeca, Neópolis, Pacatuba e Piaçabuçu. E o velho e honrado parteiro, que chegou a ser o obstetra mais famoso de Sergipe, ao invés do sagrado descanso, continuava atendendo 15 mulheres por turno de serviço. Só deixando quando as suas pernas não mais suportavam.

Por outro lado, agora aos 91 anos, nos concedeu uma entrevista emocionante. Relembrou com lagrimas nos olhos a sua felicidade, as suas alegrias, as amizades, o que fez de bem a tanta gente. Ali, num modesto apartamento, ainda guarda como ícone sagrado a pintura de Florival Santos, representando milhares de mães que ele zelosamente aliviou as dores do parto. Diariamente, o Dr. Dalmo posta-se diante do quadro e faz as suas orações, com a felicidade de quem tem certeza que a sua missão na vida foi cumprida. Minha emocionada homenagem, Dr. Dalmo.

Reproduzido do Facebook/Antonio Samarone.

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