Judite Melo: A escultora estanciana de fama internacional.
Por Oswaldo Freire.
Nesta manhã de domingo, 18 de janeiro de 2015, convoco todos
os pássaros que voam pelos céus da nossa querida Estância – andorinhas,
pintassilgos , sabiás, canarinhos, pardais, corujas, beija-flores, rolinhas,
pombas, jandaias, inhambus, carcarás, gaviões, quero-queros, falcões e outros -
para levar-me em suas delicadas asas a visitar a “Cidade Cultura de Sergipe”.
Agradecendo aos meus amigos pássaros pela viagem, estão a me
esperar, os nossos fiéis amigos Edneusa e Afonso Oliveira (da tradicional
Farmácia Estanciana), familiares e alguns amigos do Major Oswaldo Freire da
Fonseca, meu inesquecível pai, que um dia decidiu “em amor a Estância ninguém
me excede”, pura verdade que percorrerá todos os séculos.
O objetivo desta curta viagem, mas que registra uma amizade
muito longa é visitar a nossa adorada Judite Melo, respeitada artesã de renome
internacional.
Autodidata, iniciou seus trabalhos manuais com a argila,
inspirada em outro grande estanciano José Antônio dos Santos (1921-1982),
conhecido pelo carinhoso apelido de Zé de Dome cujas obras são notáveis
preciosidades e fez escola. Ela começou despretensiosamente confeccionando seu
próprio presépio, transformando-se em uma irretocável santeira.
O tempo foi passando, os anos novos chegando e a nossa Judite
fomentava suas criações sacras, estimulada por amigos e visitantes, contudo,
precisava de projeção nacional.
“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro
pela vida”, cantava o notável poeta e diplomata Vinícius de Moraes (1913 –
1980).
Numa das viagens do Major Oswaldo à sua terra natal,
encontrando com ela, avaliou a idéia de ajudá-la nesta empreitada.
No seu regresso á Jacutinga-MG, onde morava, contou-me sobre
esta possibilidade, pois tinha um bom amigo editor do “Diário de Notícias”, do
Rio de Janeiro.Pena que não me lembro da data nem do nome do bondoso
samaritano, talvez com sobrenome germânico. De pronto aceitei o seu convite e
lá fomos para a “Cidade Maravilhosa”.
A entrevista foi um sucesso, pois, atendeu ao pedido do
Major, e no dia seguinte, registrou uma longa reportagem com foto da imagem do
Sagrado Coração de Jesus, presenteada naquela ocasião, naturalmente obra prima
de Judite Melo. É possível que ela tenha guardado um exemplar deste jornal
enviado pelo meu pai.
A partir daí, um divisor de águas na sua carreira, com
muitas encomendas, viagens, hospedagens, entrevistas, exposições e mais
trabalhos.
Ela dedica horas e horas do seu dia, na produção artística,
utilizando barro para materializar suas lindas criações, sem necessidade de
modelos, tamanha sensibilidade e intimidade com os santos, frutos de uma
inteligência ímpar e de um coração imensurável que pulsa em realizações
internacionalmente reconhecidas. Hoje, mesmo sem uma vista e na iminência de
perder a segunda, sua determinação de cumprir o seu destino com o belo, segue
firme.
Muito religiosa, crê que seu talento é uma dádiva de Deus e
suas imagens sacras, como Sagrado Coração de Jesus, Nossa Senhora da Conceição,
Anjo Gabriel e outros, e eu acredito que formam uma belíssima coletânea, como
um presente de Sergipe para o mundo.
Convoco por uma fração de tempo, devidamente autorizado pelo
Senhor, algumas bondosas almas da nossa “Cidade Jardim de Sergipe” – Major
Oswaldo, Daniel Fernandes Reis (saudoso Carlos Tadeu), Elísio Matos,
Raimundinho, Oliveirinha Gabirú, Lauro Santana, Dona Francisquinha, para comigo
formar um coral e cantar com voz forte, “Louvação à Santeira”, uma inédita
canção de amor, acompanhada da Lira Carlos Gomes, para daqui distante, do
Planalto Central, homenagear a nossa querida irmã de todos, a pequenina Judite
Melo, enorme criatura de Deus.Que nosso canto uníssono aos seus ouvidos irão
chegar como apaixonados murmúrios das serenas ondas que aportam com frequência
na nossa praia do Abaís, nas noites claras de lua cheia..
Com ela tive memoráveis encontros na nossa Estância. Um
deles, em julho de 1989, acompanhei meu saudoso pai, Major Oswaldo, para o
lançamento do seu livro “Estância Folclórica”, na sede da centenária Lira
Carlos Gomes. Nesta oportunidade visitamos Judite. Outro, em Brasília, em 1980,
no apartamento do meu prezado colega, Oto Jacob e sua esposa Zélia, ambos
admiradores da sua arte. O último ocorreu na tarde de 19 de novembro de 2014 na
sua casa, onde também funciona seu ateliê, na Rua Zeca do Forte, no bairro
Cidade Nova, acompanhado do meu fraterno amigo, Magno de Jesus, que carrega
consigo seriedade e competência. Ao chegar, peguei suas delicadas mãos - seus
verdadeiros instrumentos – utilizados no profícuo trabalho e procurei seu olhar
e lhe fiz duas perguntas. A primeira: quem pela primeira vez te projetou
nacionalmente? A resposta veio de pronto: Major Oswaldo. A segunda, ainda de
mãos dadas, perguntei: Quem sou eu? Oswaldinho, respondeu de súbito.
Emocionado, dei-lhe dois carinhosos beijos no rosto, um enviado pelo meu
inesquecível pai, Major Oswaldo e outro meu – também seu admirador - pois “o
pinto sai do ovo com a pinta que o galo tem”, como declamava o poeta maranhense
Catulo da Paixão Cearense (1863-1946), na sua obra “Marrueiro”.
Há duas formas para viver: uma é acreditar que não existe
milagre. A segunda, é acreditar que todos os patrimônios ecológicos,
históricos, científicos, culturais e sociais, realizados em prol da humanidade,
são presentes de Deus.
Para que a pessoa possa ter brilhante atuação na vida, há
que ter honestidade e perseverança, que propiciarão liberdade e prosperidade,
contudo, sempre exaltando o valor de todas as artes que humanizam o mundo, como
as lindas obras de Judite Melo.
Velas ao vento... Deus seja louvado
(*) É filho do “Major do Povo”.
Texto e imagens reproduzidos do site: atribunacultural.com.br
Uma mulher simples e maravilhosa, , me presenteou com uma imagem de São Francisco de Assis, guardo-a até hoje na minha sala. Em todas as residências que já tive, esta imagem sempre me acompanhou, foi um presente dado com muito carinho. Obrigado Judite, jamais esqueci seu gesto de doação deste bela imagem. Jorge B.
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