sexta-feira, 14 de julho de 2017

Bairro 13 de Julho: uma História

Foto: Curva do Iate Clube, av. Beira Mar/Década de 50
Arquivo: Murilo Mellins.

Amâncio Cardoso, historiador e professor.

Publicado originalmente no site da PMA, em 08/03/2010 

Bairro 13 de Julho: uma História.
Por Amâncio Cardoso.

O território do bairro 13 de Julho passou por profundas transformações urbanísticas após 155 anos de fundação de Aracaju. Nesse sentido, vejamos algumas notícias, desde o século XIX até hoje, deste que ainda é um dos mais valorizados bairros de nossa capital.

Antigo arrabalde denominado de Ilha dos Bois, a área foi vendida ao Governo Imperial pelo sitiante José Honório dos Santos, em 1872. Até onde se sabe, este é o registro mais recuado que se tem do local. O governo pretendia construir ali um lazareto - abrigo para controle sanitário, onde são mantidas pessoas supostas ou portadoras de moléstias epidêmicas, como cólera e varíola que grassaram no século XIX.

No entanto, o estabelecimento não foi construído. Porém, o nome do lugar ficou também conhecido por Sítio da Nação, devido à aquisição do Poder Central. No final do século XIX, por ser região ribeirinha, o subúrbio começou a ser povoado por marujos e pescadores que, habitando em casas de palha, tiravam o sustento da família explorando a perigosa barra do Cotinguiba (antigo nome do rio Sergipe).

No início do século XX, os banhos de praia com águas salgadas começaram a se popularizar como lazer. Dessa maneira, o lugar recebe um novo topônimo: Praia Formosa. A beleza talvez se devesse ao encontro da barra do Sergipe com a foz do riacho Tramandaí, conhecida como Quatro Bocas; além de ser um local ermo, de areias alvas e águas limpas à época.

Tramandaí é topônimo de origem indígena com três possíveis significados: para alguns estudiosos, rio sinuoso; para outros, rio de peixes; ou ainda, rio que se pesca com rede. Esta última acepção é compatível com a cultura piscosa que até hoje resiste no lugar. Numa pracinha da curva do Iate, ainda se observa a arte de confeccionar redes por pacientes pescadores.

Em 13 de julho de 1924, na paradisíaca Praia Formosa, tropas rebeladas do Exército se entrincheiraram e minaram a barra à espera de possíveis forças legais que ameaçariam os rebeldes tenentes. Este episódio está ligado ao movimento tenentista estudado nos livros de História do Brasil, durante a Republica Velha (1889-1930). Desde 1922, eclodiram no país diversas revoltas dos quartéis em oposição ao regime oligárquico dos fazendeiros do Sul e Sudeste, e dos coronéis no Nordeste.

Uma destas insurreições militares ocorreu em Sergipe no dia 13 de julho de 1924, quando a cidade foi tomada pelos tenentes e alguns civis, sob a liderança, entre outros, de Augusto Maynard Gomes (1886-1957). Eles formaram uma Junta Governativa militar e prenderam o então presidente do Estado (equivalente a governador) Graccho Cardoso (1874-1950).

Aracaju ficou em clima de guerra durante 21 dias. Logo depois, os jovens militares e demais participantes, que representavam os anseios dos estratos médios da população urbana, foram presos e punidos. As revoltas tenentistas marcaram sobremaneira a História política nacional e local entre 1922 e 1930; simbolizadas no atual nome do nosso bairro.

Em outubro de 1930, numa reviravolta política, os antigos tenentes ascenderam ao poder em nível nacional, após a denominada Revolução sob liderança de Getúlio Vargas (1883-1954). Então, em 27 de novembro daquele ano, instituiu-se através do ato municipal nº 11 a mudança, mais uma vez, de topônimo do nosso memorável bairro: de Praia Formosa para 13 de Julho. Homenagem dos representantes do governo revolucionário ao levante dos tenentes naquele local, dia e mês de 1924.

Um dia antes da assinatura do ato municipal para a mudança de topônimo, o antigo tenente rebelado e depois general Maynard, havia tomado posse como Interventor (governador nomeado pelo presidente) de Vargas no Estado até 1935, num primeiro mandato. Donde se explica a imediata instituição para marcar o 13 de Julho na memória sergipana.

Em 1931, o incipiente bairro 13 de Julho já possuía quase 80 casas de palha e poucas de telhas. Eram os primeiros veranistas juntando-se aos nativos pescadores. Neste mesmo ano, ruas foram abertas, tais como a Raimundo Fonseca e Júlio de Santana, ainda existentes. A primeira, pelo fato de possuir um solo lamacento, por conta da formação de manguezais, era chamada pelo povo através do pitoresco nome de rua do "Caga em Pé", tornando-se impossível a postura de cócoras para uma eventual necessidade fisiológica.

Uma outra rua que marcou o imaginário coletivo foi a que levava o não menos expressivo nome de "Cu Tapado" - atual José Sotero, assim chamada por não ter saída à época. Outra via de antanho no bairro 13 de Julho é a curva do Carvão, depois chamada do Inflamável; pois ali funcionava um depósito de venda de querosene e outros combustíveis. Hoje, é a famosa curva do Iate Clube.

Para iluminar estas e outras ruas que surgiram ao longo do século XX, a luz elétrica chegou também em 1931. Nesse período, o acesso ao tradicional bairro foi facilitado com aterramentos e linhas de bondes elétricos. Assim, iniciava-se a moderna urbanização da área.

No ano de 1937, o bairro 13 de Julho perdeu seu prestígio de lazer praiano, certamente, após a construção da ponte do rio Poxim, a qual facilitou o acesso à praia de Atalaia. Desde então, paulatinamente, os aracajuanos substituíram o banho ribeirinho pelo oceânico. Além disso, nas últimas décadas, com a intensa ocupação imobiliária, rios e riachos que banham a área vêm servindo de esgotos sanitários, prejudicando a pesca e extinguindo o lazer balneário.

No dia 15 para 16 de agosto de 1942, ocorreu outro fato marcante também presenciado pelos moradores do bairro 13 de Julho. Foi a chegada a Aracaju dos sobreviventes dos três navios torpedeados pelos alemães em costas sergipanas durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945). Este episódio foi um dos estopins para a entrada do Brasil no conflito. Conforme um testemunho, os feridos iam chegando "macilentos, esfarrapados com a bestial tragédia refletida nos olhos cheios de espanto e angústia". Cerca de 500 (quinhentas) pessoas faleceram e os corpos começaram, então, a aparecerem em nossas praias.

Passados mais de sessenta anos, o bairro 13 de Julho é lembrado por se destacar como um dos cartões postais de Aracaju. Não obstante tenha sido cenário de revoltas e tragédias, e possua canais poluídos, seu calçadão, onde citadinos tomam água de coco, fazem caminhadas e brincam o Pré-Caju (festa carnavalesca); seus tradicionais bares e requintados restaurantes; seus prédios e equipamentos urbanos e culturais - como a Biblioteca Pública Epifânio Dória e o Iate Clube, entre outros - fazem do 13 de Julho um dos mais aprazíveis e funcionais bairros de nossa capital.

Para saber mais:

- BARRETO, Luiz Antonio. Pequeno dicionário prático de nomes e denominações de Aracaju. Aracaju: Itebec/Banese, 2002.
- CABRAL, Mário. Roteiro de Aracaju. 3 ed. Aracaju: Banese, 2001.
- DANTAS, José Ibarê Costa. O Tenentismo em Sergipe - da Revolta de 1924 à Revolução de 1930. 2 ed. Aracaju: J. Andrade, 1999.
- PORTO, Fernando de Figueiredo. Alguns nomes antigos do Aracaju. Aracaju: J. Andrade, 2003.

- MELINS, Murilo. Aracaju que vi e vivi. 2 ed. Aracaju: J. Andrade, 2004.

Texto e imagens reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br

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