Publicado originalmente no site do Jornal do Dia, em 01/07/2017.
Bispo do Rosário ganha catálogo raisonné.
Diagnosticado como esquizofrênico paranoico, viveu por quase
50 anos como interno de uma clínica psiquiátrica do Rio de Janeiro.
Aproveitou-se dos materiais precários que o cercavam para recriar o mundo e
registrou em mantos e estandartes tudo que sua memória foi capaz de recordar.
Arthur Bispo do Rosário, um dos expoentes da arte contemporânea brasileira,
terá toda a sua produção reunida e reverenciada em um catálogo raisonné, cujo
lançamento está previsto para agosto de 2018.
Idealizado e patrocinado pela galeria Almeida e Dale e
coordenado por Ricardo Resende, curador do Museu Bispo do Rosário Arte
Contemporânea, o projeto de pesquisa e catalogação da obra do artista está em
fase inicial e deve se estender por mais dez meses. A equipe de pesquisa é chefiada
pela pesquisadora Aída Cordeiro.
Bispo do Rosário teve a sua genialidade reconhecida
tardiamente, somente em 1982, quando alguns de seus objetos integraram À margem
da vida, mostra coletiva organizada pelo crítico Frederico Morais, no MAM do
Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que seu trabalho foi visto fora da Colônia
Juliano Moreira, antigo hospital psiquiátrico do qual era interno, em
Jacarepaguá, zona oeste da capital fluminense.
“Suas condições social e de saúde dificilmente permitiriam a
inserção e o destaque na sociedade contemporânea. Contudo, sua obra subverteu a
lógica das estruturas convencionais do sistema da arte, alcançando destaque na
arte do século XX. O seu reconhecimento enquanto artista fez com que sua obra
estivesse presente nos maiores e mais importantes eventos e espaços da arte no
mundo”, afirma Ricardo Resende.
O trabalho de Bispo do Rosário já foi reverenciado em duas
Bienais de Veneza, em 1995 e 2013, e na 30ª Bienal de São Paulo, em 2012. O
artista teve ainda uma série de outras exposições de grande relevância e
destaque, como a realizada no Victoria & Albert Museum, de Londres, em
2012, e mais recentemente, em 2016, no New Museum, de Nova York. Atualmente, o
Manto da Apresentação, talvez o mais icônico de seus trabalhos, integra uma
mostra na Maison Rouge, em Paris.
“Bispo do Rosário é um dos mais importantes nomes da arte
brasileira contemporânea e sua relevância tem sido legitimada pela presença de
sua obra nos circuitos artísticos brasileiro e internacional. Nesse sentido, a
catalogação de sua produção é de fundamental importância para a democratização
do conhecimento, compreensão e preservação da memória que cerca seu trabalho”,
diz Antonio Almeida, da Galeria Almeida e Dale, de São Paulo.
Com tiragem de 1.000 exemplares, o catálogo reunirá imagens,
dados técnicos, histórico de exposições e bibliografia referentes a 804 trabalhos
produzidos pelo artista e será distribuído a instituições e bibliotecas de
acesso público. A publicação terá ainda uma versão digital, que será disponibilizada
em site vinculado ao Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea. Paralelamente
ao trabalho de pesquisa e catalogação, as obras de Bispo passarão por um
processo de higienização e desinfestação, realizado segundo padrões
museológicos internacionais.
Alfredo Volpi, Cândido Portinari, Iberê Camargo e Tarsila do
Amaral integram o seleto grupo de artistas brasileiros que já tiveram seus
trabalhos catalogados em raisonné. Com o seu catálogo, Bispo do Rosário de
juntará ao contemporâneo Leonilson, artista cuja produção foi fortemente
influenciada pelo trabalho do sergipano e que teve seu raisonné lançado agora
no final de junho de 2017.
Texto reproduzido do site: jornaldodiase.com.br
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