Resenha do Romance Os Corumbas de Amando Fontes
Amando Fontes, Autor do romance "Os Corumbas"
Introdução:
Lançado em
1933, os Corumbas trata-se de um romance que retrata o drama de uma família de
sergipanos que decidem migrar para a capital do seu Estado, ante a auspiciosa
perspectiva de conseguirem melhores empregos e uma vida decente na “promissora”
Aracaju do século XX. Sá Josefa e Geraldo são o casal que, junto com os seus 5
filhos, compõem a família que protagoniza a história do romance.
Resumo da obra:
Começando com uma espécie de prólogo (a primeira parte do
romance), a história mostra como viera a se dar o relacionamento entre Josefa e
Geraldo, e os motivos que levaram a família inteira a saírem de sua pequena
cidade do interior para irem viver e trabalhar na capital. Ao se instalarem em
Aracaju, o pai da família, junto com os seus três filhos mais velhos (Rosenda,
Albertina e Pedro) se empregam na companhia sergipana de fiação (A Sergipana).
As condições em que a família vive são muito difíceis. E os graves incidentes
que, de pouco a pouco, vão acometendo a família, acabam por agravar ainda mais
a sua situação. A fuga de Rosenda é o primeiro destes incidentes, no qual,
Rosenda, apaixonada pelo cabo Inácio dos Santos, decide abandonar o seu lar,
ante a desaprovação de seus pais ao namoro. Depois, há a prisão de Pedro, único
filho homem da família, o qual, ao tomar partido da greve do operariado Sergipano,
acaba por sofrer do mesmo fim que o seu amigo, Jose Afonso (responsável pela
introdução de Pedro aos ideais do comunismo), sofre: A prisão junto com a
deportação. Não obstante o abatimento emocional que esse segundo incidente
viera a causar sobre a família, também houve um sério prejuízo em seu orçamento
já afetado com a fuga de Rosenda. Em função disto é que a frágil Bela, mesmo
estando com a sua saúde afetada, se ingressa no trabalho das fabricas.
Entretanto, a exaustão dos serviços na fábrica acabam por agravar ainda mais a
saúde de Bela, e logo a família se vê aflita quanto a sua sobrevivência e
quanto aos gastos que irão ter com o seu tratamento e. E é nesse momento que
surge o personagem do Dr Silva Fontoura, medico assistente da Fábrica têxtil,
na qual, Albertina trabalhava desde que fora expulsa da Sergipana logo após uma
discussão que esta tivera com o seu contramestre por causa de seus constantes
assédios. É Albertina quem tem a ideia, e que também vai solicitar o auxílio do
Dr. Fontoura para o caso de Bela, sendo que este o aceita, meramente motivado
pelos seus interesses libidinosos por Albertina, que se acendem logo na
primeira vez em que o Dr. Fontoura a vê. Vendo a Irma inativa, definhando aos
poucos, Caçulinha decide se empregar também. Moça estudada e bonita, Caçulinha
consegue emprego no escritório da companhia sergipana de fiação, e algum tempo
depois disso, Bela morre. Os momentos finais da obra são constituídos pela
perdição de Albertina, a qual, afinal, acaba se entregando ao Dr. Fontoura; e a
paixão e posterior perdição de Caçulinha com o sargento Zeca, uma figura com a
qual Caçulinha passa a manter relacionamentos logo após o conhecê-lo numa
festa. A obra se encerra com o angustiante retorno de Josefa e Geraldo a
Ribeira, local em que viviam antes de irem morar em Aracaju, e onde, agora,
ansiavam viver os seus últimos momentos de vida.
Comentários pessoais e análise da obra:
Além de se constituir em uma excelente obra ficcional, os
corumbas também se constitui em uma excelente obra de denuncia social que
oportuniza o conhecimento de algumas das problemáticas que perpassavam o
operariado sergipano em seus primórdios, tais como, a exploração do trabalho
infantil, a ausência de direitos trabalhistas, as condições perigosas e insalubres
em que os operários trabalhavam, e a repressão contra todos aqueles que se
mobilizassem contra a ordem trabalhista das fabricas. Todavia, dentro todos os
temas e aspectos em que o romance se notabiliza, urge mencionar o destaque que
as suas personagens femininas assumem no decorrer da trama. Essa é uma obra na qual se pode perceber uma
nítida preocupação do seu respectivo autor em querer mostrar para o leitor,
como era a vida das mulheres pobres da Aracaju do século XX, principalmente, a
daquelas ligadas ao operariado. Josefa, Rosenda, Albertina, Bela e Caçulinha,
são personagens que ilustram a difícil vida das mulheres ligadas ao segmento
popular. Outro ponto a ser salientado do romance é sobre o quanto que ele nos
oferece um rico painel do que fora a Aracaju daqueles tempos e as pessoas que
viviam nela, mostrando como era a alimentação, a indumentária, os costumes, as
festas e os tipos sociais que desfilavam pela cidade.
Falando um
pouco sobre o estilo de Fontes, com base no que pude apreciar desse autor em Os
corumbas, o seu estilo me fez lembrar ligeiramente o do escritor carioca Lima
Barreto. O que eu achei em comum entre esses dois escritores fora o caráter
eminentemente social de suas obras e a narrativa de fácil assimilação.
Entretanto, enquanto que a obra de Barreto se notabiliza por ser aquilo que
Sergio Buarque de Holanda, em prefacio da 2º edição de Clara dos Anjos, chamava
de “(...) uma confissão mal escondida, confissão de amarguras intimas, de
ressentimentos, de malogros pessoais, que nos seus melhores momentos ele soube
transfigurar em arte” (BARRETO, 1961, P.9) Fontes demonstra seguir por um
estilo literário onde o seu lado pessoal pouco interfere na constituição de
suas obras.
Os corumbas é
um romance que que deve ser lido por todos aqueles que queiram conhecer um
retrato da miséria que vigorava entre o operariado sergipano dos primeiros
tempos, a partir do qual, passamos a compreender melhor o histórico processo de
exclusão social comum não só a realidade sergipana daquela época, mas a de todo
pais.
Referências bibliográficas:
FONTES, Amando Os Corumbas. Rio de Janeiro. Editora José
Olympio. 1967, 8º Edição.
BARRETO, Lima. Clara Dos Anjos. São Paulo. Editora
Brasiliense.1961, 2º Edição.
Texto reproduzido do blog: sergipeiiempauta.blogspot.com.br
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