Publicado originalmente no Facebook/Marcos Cardoso, em 7 de julho de 2017.
No caminho das estrelas.
Por Marcos Cardoso.
Dizem que os pioneiros do turismo como o conhecemos hoje
eram beatos que no século IX organizaram as primeiras excursões pagas para
visitar a tumba de Santiago de Compostela, no que depois se tornaram os
venerados e frequentados Caminhos de Santiago, rumo à capital da Galícia
espanhola.
Canindé de São Francisco foi a Compostela de Silvinha de
Oliveira. Ali ela percebeu que as belezas naturais, a intervenção humana e a
história impregnada do sangue sertanejo são atrativos tão interessantes para os
viajantes quanto os supostos restos mortais de São Tiago, apóstolo de Cristo, o
são para os visitantes do mundo inteiro que acorrem àquele canto atlântico da
Espanha.
Silvinha desbravou os caminhos para a Canindé banhada pelo
abençoado Velho Chico, com seu cânion tão plástico, seus sítios arqueológicos,
suas rotas cangaceiras, caatinga, hidrelétrica, águas e céu. E ser humano!
Porque ela enxergava que o turismo deve interferir o mínimo possível no meio
ambiente e não se faz atropelando histórias de vidas.
Competente profissional como jornalista e como guia de
turismo, Silvinha mantinha uma visão holística do objeto do seu trabalho. Uma
das suas melhores qualidades era a generosidade que a fazia enxergar que sem o
homem e a mulher não haveria o todo integrado. Sem as mãos que tecem não há o
artesanato, sem o suor no campo não há os frutos e os quitutes tão apreciados
pelos eternamente embasbacados turistas.
Aonde ia, Silvinha transportava mais do que paisagens.
Levava o seu povo atrás. Inventou a noite sergipana na europeia Gramado, onde
não dispensava as rendas, as comidas típicas e o forró, sempre acompanhados das
rendeiras, das cozinheiras, do trio nordestino. O nosso povo. E emplacou esse
conjunto natural e humano na novela global “Cordel Encantado”, sucesso de
público e crítica além-região.
Com sua generosidade, estava sempre “inventando” um
restaurante novo, uma goiabada e um queijo com sabor da terra, um passeio
diferente, uma nova história para contar. Ela adorava contar histórias simples
das pessoas comuns.
E esse contato com as pessoas e os lugares era a força
motriz do seu trabalho, energia vital que a mantinha sempre sorrindo, apesar
das adversidades. Com o apoio incondicional e sincero do amado Silva Júnior,
companheiro na profissão e na vida, Silvinha lutou contra a doença terrível
como aquele viajante experimentado e confiante que sempre pegava a estrada
crente de que o destino o traria de volta, como sempre acontecia, mas que num
dia fatídico foi traído por um acidente no caminho.
Ela saía da sua Compostela e pegava a Rota do Sertão certa
de que logo trilharia o caminho de volta. Numa sexta-feira, 8 de junho de 2012,
não voltou. Todos aqueles que foram ajudados por ela, que a conheceram ou
apenas sabiam da sua existência lamentaram a morte prematura de uma mulher que
ainda tinha tantos lugares e sonhos a percorrer. Mas consolam-se na esperança
de que Silvinha, cidadã do mundo, inventou um novo caminho, dessa vez rumo às
estrelas.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Marcos Cardoso.
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