No pavimento inferior do Palácio Museu Olímpio Campos,
a
cópia do Decreto de Emancipação Política de Sergipe,
datado de 1820, rememora o
8 de Julho.
A coordenadora do museu, a historiadora Izaura Ramos,
conta
que em 2017 o espaço já recebeu mais de 5,8 mil visitas.
A historiadora Edna Maria Matos Antônio, explica a
importância de relembrar
e enaltecer a data e o contexto da conquista da
autonomia de Sergipe.
A cópia da carta régia, exposta no Palácio Museu Olímpio
Campos fica
localizada na sala dedicada à História da Província de Sergipe.
O prédio foi a sede do governo do estado de Sergipe até
1995.
Em 2010 foi transformado em um museu.
Inaugurado em 1863, o Palácio Olímpio Campos, hoje
Palácio-Museu Olímpio Campos, conta um pouco da história do estado por meio de
um acervo de mais de mais de mil peças.
Maquete de Aracaju é uma das atrações mais procuradas.
"O público de Sergipe tem curiosidade para ver como era
a casa dos governadores, como eram os quartos, a sala, como eles viviam",
conta Izaura Ramos.
Fotos: Marcelle Cristinne/ASN.
Publicado originalmente no site Agência SE., em 08 de Julho de 2017.
Especial 8 de julho: Emancipação de Sergipe se entrelaça à
história da Independência do Brasil
Palácio Museu Olímpio Campos revela uma parte da história da
província sergipana
No pavimento inferior do Palácio Museu Olímpio Campos,
localizado no centro da capital sergipana, Aracaju, a cópia do Decreto de
Emancipação Política de Sergipe, datado de 1820, rememora o 8 de Julho, data em
que é celebrada a independência do território de Sergipe da Bahia. Neste
sábado, 08, o estado comemora 197 anos da data. A historiadora Edna Maria Matos
Antônio, explica a importância de relembrar e enaltecer a data. “É muito válido
comemorar o 8 de julho. Tanto nas escolas, quanto por todos, trazer à memória
as figuras políticas que participaram deste processo”.
A Emancipação Política de Sergipe serviu como base para o
doutorado da professora, que investigou e correlacionou como os fatos locais e
da história do Brasil naquele período que dialogaram para possibilitar este
acontecimento em terras sergipanas e os desdobramentos da crise do colonialismo
na América Portuguesa. “A tese que produzi, que investiga a independência de
Sergipe, se deu a princípio por uma ideia que já era percebida aqui por alguns
estudiosos do estado. Uma produção do Instituto Histórico e da própria
Universidade Federal de Sergipe [UFS] já havia enfatizado que havia um
entrelaçamento do movimento de emancipação sergipana com o movimento mais
geral, da América Portuguesa, que alguns gostam de chamar de Brasil Colônia.
Fui atrás exatamente de captar as nuances, as questões dessa relação dupla, de
como a independência de Sergipe estava acontecendo ao mesmo tempo que dilemas
importantes colocados para sociedade colonial foram resolvidos nas várias
partes do Brasil”.
A tese da historiadora traz um ponto de vista que esmiunça a
ideia amplamente propagada de que a independência sergipana com relação à Bahia
teria sido derivada de um gesto do Rei D. João VI como uma forma de começar a
participação dos sergipanos na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução
Pernambucana de 1817.
“Percebi que Sergipe tinha uma história muito específica,
muito interessante e representativa das questões que as pessoas vivenciaram
naquela época em um contexto muito conturbado, que foi o da Independência. E,
atrelado a tudo isso, de um modo geral, a gente abandonou uma visão muito
ingênua sobre a independência, centrada muito na figura do Dom Pedro I e em
algumas explicações que dizem que a sociedade brasileira estava insatisfeita
com a colonização metropolitana desenvolvida por Portugal. A compreensão de
como as partes do Brasil se comportaram nesse processo de independência estava
muito em evidência, no momento que resolvi aprofundar os conhecimentos sobre
este fato, mas não havia um estudo específico sobre Sergipe. Aqui havia uma
interpretação que não dialogava com essa perspectiva, de destaque dos
personagens locais. Fui atrás justamente de captar um momento de discussão
política muito importante para região”.
Conquista da autonomia
Para Edna, em Sergipe, o contexto histórico ganha um
conteúdo especial porque se ignora ou tenta passar por cima do decreto de Dom
João VI. A professora lembra ainda que a
capitania já havia sido autônoma em outra época e só passou a ser considerada
anexa à Bahia a partir do decreto do Pombal, em 1773.
“Nessa confusão toda, com a Revolução do Porto em 1920, se
nomeia um governador pra Sergipe, porque até então o que se tinha aqui eram
administradores vinculados à Bahia. Seria a primeira experiência de capitania
autônimo a partir do Decreto de 8 de Julho, o famoso decreto de Dom João VI,
que concede autonomia ao território e traz um dado muito importante, de que a
capitania teria igualdade perante as outras, ou seja, diz que a capitania teria
que responder ao governo do Rio de Janeiro, como todas as outras faziam”.
A independência política da então capitania de Sergipe não
se concretiza de fato a partir de 8 de julho, como explica a historiadora. “O
governador tem que vir para Sergipe para assumir e organizar a capitania nos
moldes de autonomia. O brigadeiro Carlos César Burlamaqui é nomeado. Mas uma
parte da elite de Sergipe não aceita o novo governante, principalmente a mais
ligada à Bahia, porque compactuavam das ideias da Revolução do Porto [movimento
político de caráter liberal e antiabsolutista que, no Brasil, resultou, em
1821, no retorno da corte para Portugal]. Além, obviamente, de manter o domínio
de uma região que era importante abastecedora de gêneros alimentícios, de
exportação, que tinha uma economia relevante que auxiliava muito a economia
baiana, uma economia de suporte. E Burlamaqui estando aqui, representando o
rei, era um empecilho a tudo isso. Então, setores da elite daqui que coadunam
com essas opiniões passaram a tramar a deposição do primeiro governador, Carlos
Burlarmaqui. Também havia as relações familiares, políticas e econômica com os
grupos da elite da Bahia, então era uma espécie de coesão de grupos da elite da
época. Claro que havia grupos que queriam que o decreto fosse respeitado, que
não queriam o retorno da situação subalterna à Bahia. Eram projetos políticos
diferentes e havia apoiadores para cada um deles, mas ganhou o grupo de mais
força e depuseram o Carlos Burlamaqui, que ficou preso na Bahia”.
De acordo com Edna alguns registros mostram que, os
batalhões dos grupos militares seguiram a liderança de chefes específicos, como
José Guilherme Nabuco de Araújo, de Estância e Santa Luzia, que organizou sua
tropa para poder marchar até São Cristóvão, sede da capital sergipana na época.
“Também vieram outras tropas de Laranjeiras e todos unidos chegaram a São Cristóvão
e foram apoiados por tropas baianas. De certa forma, São Cristóvão foi invadida
por tropas militares destes grupos para fazer o governador ceder, o que acabou
acontecendo. Alguns relatos mostram justamente isso, Sergipe retornou à
condição de subalterno sem que fosse necessário um único tiro de bala. Pois
Burlamaqui viu que não tinha condições de resistir. Ele pediu ajuda dos
próprios militares e não foi acatado, não recebeu retorno, então percebeu que
estava realmente sozinho. No Rio estava aquela confusão, se Dom João voltava ou
não para Portugal e se jurava a Constituição liberal, devido a revolução do
Porto, então não tinha como a Corte ajudar”.
Sergipe, assim, retorna à condição de comarca até que, em
1823, o contexto da Independência do Brasil serviu para que a decisão da carta
régia de 8 de julho de 1820 fosse confirmada e referendada por Pedro I. São
Cristóvão é novamente elevada à condição de cidade, para ser a capital de
Sergipe. Posteriormente, a Constituição do Império, de 1824, colocou Sergipe
entre as províncias do Brasil, consolidando a Emancipação de 8 de julho.
Importância
“Claro que foi um movimento da elite, não dá pra negar, mas
temos que pensar que uma sociedade inteira projetou naquele momento que a vida
deles poderia mudar de alguma forma. Há registros de que senzalas se
levantaram, comemoram quando ficaram sabendo da Independência do Brasil, aqui
também em Sergipe, senzalas de Sergipe. Então percebemos que houve sim uma
expectativa da população mais pobre, da população explorada a respeito do
processo político que estava acontecendo, iniciado lá naquele 8 de julho”, esclarece
a professora.
Segundo a historiadora ainda que a confirmação tenha vindo
1823, o 8 de julho representa um marco para Sergipe. “É a data oficial, mas há
uma série de questões, de contexto, processo e eventos, que a História e as
voltas que o mundo deu e acabou resultando naquilo, que na verdade traz um
conteúdo muito mais interessante. Óbvio que a data é importante, mas se tem que
pensar que quando a gente vai contar um
pouco sobre essa data, ela nos remete a um contexto muito complexo, mas
mesmo assim, intrigante, curioso, que diz respeito a Sergipe, que as pessoas
deveriam conhecer mais e que de modo algum é algo que inferioriza, pelo
contrário, mostra que teve luta aqui para separar Sergipe da Bahia, houve
manifestação, ação de muitas pessoas envolvidas para conseguir essa realidade,
de uma província independente”.
Palácio-Museu
A cópia da carta régia, exposta no Palácio Museu Olímpio
Campos fica localizada na sala dedicada à História da Província de Sergipe.
Inaugurado em 1863, o Palácio Olímpio Campos, hoje Palácio-Museu Olímpio
Campos, conta um pouco da história do estado por meio de um acervo de mais de
mais de mil peças. O prédio foi a sede do governo do estado de Sergipe até
1995. Em 2010 foi transformado em um museu.
A coordenadora do museu, a historiadora Izaura Ramos, conta
que o espaço já recebeu mais de 5,8 mil visitas em 2017. “Só em junho foram
quase 2 mil visitantes. Em janeiro, fevereiro, dezembro, junho e julho a
visitação é maior por causa do turismo. Nesse período, de alta do turismo, o
público maior é de fora, nos demais, o público é mais nosso, como escolas,
pessoas que frequentam o Centro e instituições que agendam visitas”.
O Palácio Museu fica aberto de terça a sexta, das 10h às
17h, sem intervalo para almoço. E aos sábados, das 9h às 13h. “Eventualmente
quando escolas e universidades nos solicitam, abrimos à noite também. O
agendamento é feito por telefone [ (79) 3198-1461] ou pelo site, que tem um
local especifico para isso. A entrada é gratuita”, lembra a historiadora.
Para Izaura Ramos o palácio já é um monumento que está
inserido no contexto da sociedade aracajuana. “Pelo fato que ele nasce junto ao
nascimento de Aracaju e foi a sede do Estado até a década de 80. Saiu daqui de
dentro da sala de gabinete do governador decisões importantíssimas. O palácio é
fundamental para história política de Sergipe, principalmente, e essa é nossa
missão como museu, contar a história política do estado. O público de Sergipe
tem curiosidade para ver como era a casa dos governadores, como eram os
quartos, a sala, como eles viviam. Mas como nosso circuito começa pela parte
histórica eles começam a se envolver com a história, como a de Fausto Cardoso,
que morreu na porta do palácio. Com a maquete da capital, mostrando que Aracaju
até 1940 era uma cidade plana, por exemplo. Então eles começam a se envolver e
perder a curiosidade primeira de só conhecer a casa dos antigos governantes.
Assim, quando eles chegam no pavimento superior, chegam com uma outra visão,
com um conhecimento muito maior do que é Sergipe, do que é a política de
Sergipe e quem é cada figura dessas, tão importante pra gente, mas que muitos
não conhecem”, revela a coordenadora do Palácio Museu Olímpio Campos.
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