Auditório do Aeroporto de Aracaju
Detalhes da obra no auditório do aeroporto de Aracaju.
Detalhes da obra no Memorial Jenner Augusto - Cacique Chá.
Detalhes da obra no Memorial Jenner Augusto - Cacique Chá.
Detalhes da obra no Memorial Jenner Augusto - Cacique Chá.
Cacique Serigy no Cacique Chá. Ícone de Jenner com pitada de Portinari.
Painel público com traços da economia, no centro de Aracaju.
Mural público em azulejaria no Centro de Aracaju.
Mural no Centro de Aracaju - Pintura com traços cubistas.
"Os primeiros habitantes" no prédio da Energisa.
Mural no hall da Reitoria da Universidade Federal de Sergipe.
Hall de entrada do Teatro Atheneu.
Teatro Atheneu.
Publicado originalmente no site infonet/blogs/Silvio Oliveira, em 20/07/2017.
Turismo Cultural: Arte pública de Jenner Augusto
Um passeio pela história dos painéis modernistas de Jenner
em
Aracaju está entre os 65 destinos indutores do turismo
nacional, por conta de sua boa
infraestrura, mas não se configura ainda como um produto cultural
consolidado que atraia turistas por suas manifestações culturais e arte, a
exemplo de Salvador, Rio de Janeiro, Recife, Ouro Preto, ou até mesmo da rica
em espaços artísticos, São Paulo. O binômio sol e praia, a gastronomia à base
de frutos do mar, e os diversos parques e centros comerciais fazem da capital
de Sergipe um atrativo em potencial.
Nos últimos anos, os olhares de turistas e sergipanos vêm
convergindo para o turismo cultural com a abertura do Centro Cultural de
Aracaju, do Palácio Museu Olímpio Campos, do Museu da Gente Sergipana, das
galerias de arte, dos cafés culturais, dos memoriais, entre outros espaços.
É crescente o apoio que os órgãos públicos e iniciativas
particulares, além das instituições de ensino, vêm concebendo ao reconhecimento
do valor cultural do povo sergipano e o que esses espaços representam na
construção de uma identidade sergipana, ou seja, da sergipanidade. Mas poucos
ainda reconhecem o valor da arte pública, projetada em esculturas, painéis,
murais, quadros e estátuas afixados nos espaços públicos.
Os painéis e murais do artista plástico modernista Jenner
Augusto é um grande exemplo. Eles também se configuram como uma boa pedida para
àqueles que querem conhecer a história do maior representante da arte moderna
muralista de Sergipe e um dos expoentes de sucesso nas artes do final do século
XX no país.
O Tô no Mundo traz um passeio pelas seis obras públicas de
Jenner Augusto, afixadas em prédios e em empresas na capital, Aracaju (SE). São
elas: as pinturas do Cacique Chá (1949), do edifício Walter Franco (1957), do
prédio da Energisa (1961), do auditório do aeroporto Santa Maria (1962), do
hall do Teatro Atheneu (1962) e do hall da reitoria da Universidade Federal de
Sergipe (1980).
Painéis, murais e esculturas de rua são representações que
entram nos roteiros turísticos de várias cidades, juntamente com seus prédios
históricos, por documentarem através de determinada arte um período da
história, os hábitos regionais e até mesmo um perfil de um determinado povo, ou
seja, é através dessas manifestações artísticas uma fonte de registrar a história.
Basta olhar os espaços históricos do Centro de Aracaju e
verificar que eles espelham fatos, formas e perfis de uma determinada época em
representações artísticas, a exemplo dos painéis de Jordão de Oliveiral no hall
do Palácio Museu Olímpio Campos, dos murais contemporâneos de Titiliano no
Centro de Aracaju e da escultura de Fausto Cardoso, primeira estátua posta em
praça pública de Sergipe, localizada na praça do mesmo nome. E o que dizer das
obras de Jenner Augusto localizadas no antigo Cacique Chá?
Para iniciar essa viagem cultural ao mundo dos murais de
Jenner Augusto é importante trazer à tona que Jenner Augusto da Silveira (1924
– 2003) é sergipano de nascimento, filho de professora, e que passou grande
parte de sua infância mudando pelas cidades do interior de Sergipe. Humilde,
Augusto trabalhou como engraxate, sapateiro, ajudante de alfaiate, pintor de
paredes, até começar a fazer cartazes para filmes. A partir daí, verificou-se o
despertar de uma arte. O interesse pelas obras de Horácio Hora, pintor
estanciano, na década de 40, incentivava a sua pesquisa no campo da pintura.
Seus primeiros trabalhos são acadêmicos, já que o contato com o Modernismo já
amadurecido no Rio de Janeiro e em São Paulo era quase impossível. Por volta de
45, data de sua primeira exposição, começa a integrar-se no ambiente artístico
de Aracaju, mesmo não vendendo sequer um quadro em sua primeira exposição. Em
49 realiza a decoração do Bar Cacique Chá, marco da Arte Moderna no Sergipe,
onde aparece clara influência de Portinari. Nesse mesmo ano passa a residir em
Salvador (BA).
Em 1951 participa da 1ª Bienal de São Paulo. Dois anos
depois executa o painel “Evolução do Homem” no Centro Educacional Carneiro
Ribeiro, em Salvador (BA). Expondo no Rio de Janeiro, em 55, conheceu Portinari
e Pancetti, que divulgaram o artista no meio artístico. É neste mesmo ano que é
apresentado ao maior divulgador de sua arte e um de seus maiores fãs, o
escritor Jorge Amado. Jenner Augusto teve influência do baiano na sua vida e na
sua obra, sendo o ilustrador do romance Tenda dos Milagres, onde consegue
captar a alma dos personagens, ricos e fundamentais elementos formadores da
cultura baiana, tão representada pelo universo das personagens criadas pelo
escritor baiano.
Jenner Augusto da Silveira sai pelo mundo estabelecendo uma
convivência com pintores consagrados (Mário Cravo, Carlos Bastos, Genaro de
Carvalho, Carybé, Poty, Rubem Valentim, Pancetti e Portinari), participando de
exposições coletivas, realizando suas individuais, ganhando prêmios, medalhas,
citações e homenagens, em reconhecimento pela genialidade da sua obra: Medalha
de Ouro, no VI Salão Baiano (1956), viagem ao país do Salão Nacional do Rio de
Janeiro (1959) e o Grande Prêmio de Pintura, do Salão de Artes Plásticas do Rio
Grande do Sul (1962). Nos anos 1960 realizou uma importante exposição com
trabalhos abstracionistas no Museu de Arte Moderna na Bahia (MAM-BA).
Em 1962 Jenner veio a Aracaju para pintar os painéis do
Hotel Palace de Aracaju (removido para o hall do Teatro Atheneu) e outro no
aeroporto de Aracaju. Fez sua primeira individual em São Paulo, no ano de 1965.
Ainda nos anos 1960 Jenner viajou para os Estados Unidos e Europa, expondo seus
trabalhos.
Em 1995 foi comemorado na Bahia o cinquentenário de suas
atividades artísticas. Sua produção artística é caracterizada pela estética
modernista, onde predominam temáticas regionalistas representadas a partir de
estilizações e manchas de cores contrastantes.
Em 2002, a ONG Sociedade de Estudos Múltiplos Ecológica e de
Artes- Sociedade Semear inaugura em Aracaju (SE) uma galeria com seu nome:
Galeria Jenner Augusto.
Em 2015 Jenner ganha um memorial em Aracaju, justamente onde
era a efervescia da sociedade sergipana: o Cacique Chá.
As principais obras públicas de Jenner em Aracaju
estabelecem uma temática nacional por conter traços da economia da época,
trabalhadores, paisagens nordestinas e figuras representativas do perfil
sergipano, resguardando em pinceladas descendentes de Portinari e Caribé, além
do cubismo tridimensional mexicano, em voga na época. Veja os seis painéis
ilustrativos desse roteiro cultural em Aracaju:
Cacique Chá – Não é por acaso que o roteiro de turismo
cultural representado pelos murais públicos de Jenner deve começar pelo seu
memorial. Localizado no anexo do Senac Bistrô Cacique Chá, situado na praça
Olímpio Campos, no Parque Teófilo Dantas, no Centro de Aracaju, o espaço é um
passeio por documentos, objetos, instrumentos de trabalho, recortes de jornais
e revistas do artista, anotações e apontamentos.
No memorial estão também os painéis internos e externos
pintados em 1949 e restaurados em 2015. Através deles, Jenner introduziu a arte
painelística em Sergipe. Os painéis trazem trabalhadores com um toque dos
traços das pinturas de Portinari, em cores que descendem dos tons amarronzados
. Além do memorial, o local é cheio de história por lá ser o Cacique Chá,
fundado na década de 50, e passando a ser reduto da boêmia sergipana nos anos
80. As obras são tombadas pelo Governo do Estado através de decreto de 1988.
Edifício Walter Franco - O edifício foi erguido em 1956
durante o governo Leandro Maciel e ocupou o espaço do prédio da Recebedoria
Estadual, recebendo o painel de Jenner Augusto em 1957.
Primeiramente, o edifício foi construído com a destinação de
abrigar as repartições do Governo e era conhecido como Palácio das Secretarias.
Edifício de seis andares, o térreo ficou como Recebedoria Estadual, depois foi
ocupado em 1982 pelo Banese, foi sede do Ministério Público do Estado por
muitos anos.
O painel é o primeiro a ser instalado em praça pública de
Sergipe e representa um marco muralista do modernismo no Estado. Sua
regionalidade está presente no tema da época: a economia, com a produção
agrícola, pescados, coro, caju, trabalhadores em mulas e caçoas. Traz traços
cubistas mexicanos, em voga na época, com cerâmica confeccionada pelo artista
alemão Udo Knof, que também assina o mural.
Tombado pelo patrimônio público do estado em 1988, poucos
sergipanos se atém à qualidade e às particularidades da obra, como a presença
de uma pomba branca em um painel pouco colorido, com traços cubistas e a
pintura que traz uma tridimensionalidade. A obra é uma das primeiras
vanguardista pública do gênero no Nordeste e foi tombada em 1988 pelo Governo
de Sergipe.
Em 2010 o mural foi restaurado pelo Banco do Estado de
Sergipe, através da empresa AM Restauro, da Bahia, especializada na recuperação
de patrimônios históricos.
Teatro Atheneu Sergipense – O cenário primário a ser afixado
o painel datado de 1962 foi o restaurante do Hotel Palace, edificação
considerada um marco da hotelaria moderna da capital sergipana e que foi aberta
ao público neste mesmo ano. Com a deterioração e o fechamento do hotel depois
de mais de 30 anos de funcionamento, em 2004 a obra de arte representando a
chegada da família real ao Brasil foi transferida para o Teatro Atheneu
Sergipense.
Para realizar a complicada transferência, o painel foi
cortado em diversos blocos de concreto e transportado até o teatro. Lá,
juntaram-se os pedaços, em 2012 o Governo de Sergipe, através da empresa AM
Restauro, conseguiu realizar a limpeza e restauro. Todo o processo durou em
torno de quatro meses. O Executivo Estadual também tombou a obra em 1988.
Energisa - A obra é
uma das mais representativas do gênero do Estado em pintura de azulejo, intitulada
“Os Primeiros Habitantes de Sergipe”, concebida em 1961 para o antigo saguão do
aeroporto Santa Maria, em Aracaju, na época passando pela primeira ampliação da
pista de pouso e do terminal de passageiros, sendo inaugurado em 1962. Naquela
época, Aracaju contava com um dos mais modernos aeroportos do Nordeste.
Com a segunda reforma e aparelhamento do aeroporto em 1996,
obra inaugurada em 1998, o painel foi transferido do saguão do aeroporto para a
empresa Energisa, estatual de energia do estado de Sergipe. Em 2003 o Estado
tombou o patrimônio público e em 2008 passou por novo restauro.
Mesmo sendo um patrimônio público, a empresa solicita
autorizo da presidência para realizar visitação, fazendo com que muitos
sergipanos e turistas deixem de conhecer uma das principais obras do artista
sergipano.
Aeroporto de Aracaju – Em 1962 Jenner presenteou o aeroporto
com mais uma obra. Desta vez, no auditório da estação aeroportuária. A obra não
é acessível ao grande público e não apresenta uma data da pintura visível.
Contando com traços da cultura sergipana, a exemplo de trabalhadores da cana de
açúcar, do gado e do coco, a obra traz uma pintada ruralista em cores fortes e
com a assinatura do artista do lado direito.
O monumento é mais um registro documental de Sergipe de uma
determinada época, pois nele preserva-se
um dado momento social, com um determinado recorte temporal sócioeconomico do
Estado.
Reitoria da UFS – Um dos painéis mais recentes do artista,
datado em 1980, faz alusão aos brincantes do grupo folclórico parafusos de
Lagarto, de prédios históricos de São Cristóvão, além de traços acadêmicos, a
exemplo de jovens em solenidade de formatura e em atividades esportivas.
A painel partiu de um quadro menor presenteado anteriormente
pelo artista ao reitor Aloísio de Campos, como forma de que o reitor tivesse a
noção de como seria o trabalho final. Em 2015 a obra em miniatura foi
restaurada pelo filho de Jenner Augusto, Guel Silveira, e entregue novamente a
UFS. O painel final não foi restaurado ainda e preserva inestimável valor
histórico e artístico, tombado pelo patrimônio público estadual em 2003.
Gastroterapia
Entre as opções ainda estão os pratos tradicionais do
Bistrô, que integram o cardápio do Cacique Chá desde sua primeira inauguração,
em 1950: Vaca Atolada de Jenner Augusto (o prato preferido do artista), o
Cozido Sergipano e o Cachorro-quente de “ Seu João do Parque” Mas o que me
conquistou de verdade foram as sobremesas. Fiquei fã… do sabor e do preço – R$
6,50 o Browne de amêndoas com sorvete de tapioca agora, qualquer voltinha pelo
Centro termina com um docinho no Cacique chá.
Fontes:
http://www.institutomarcelodeda.com.br/banese-restaura-mais-um-patrimonio-historico-cultural-de-sergipe/
-
http://www.institutomarcelodeda.com.br/governo-restaura-painel-de-jenner-augusto-no-teatro-atheneu/
http://sergipeeducacaoecultura.blogspot.com.br/2012/03/baianidade-de-jenner-augusto.html
CARDOSO, Amâncio; ALVES, José Francisco. “Um marco da arte
moderna em Sergipe: mural de azulejos do Edifício Walter Franco”, 2016.
BRITTO, Mário; FERNANDES, Zeca (Org). Jenner Augusto: vida e
obra. Aracaju: Sociedade Semear, 2012.
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Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/silviooliveira
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