quarta-feira, 26 de julho de 2017

Turismo Cultural: Arte pública de Jenner Augusto

Auditório do Aeroporto de Aracaju


Detalhes da obra no auditório do aeroporto de Aracaju.

Detalhes da obra no Memorial Jenner Augusto - Cacique Chá.

Detalhes da obra no Memorial Jenner Augusto - Cacique Chá.


Detalhes da obra no Memorial Jenner Augusto - Cacique Chá.


Cacique Serigy no Cacique Chá. Ícone de Jenner com pitada de Portinari.


Painel público com traços da economia, no centro de Aracaju.


Mural público em azulejaria no Centro de Aracaju.


Mural no Centro de Aracaju - Pintura com traços cubistas.


"Os primeiros habitantes" no prédio da Energisa.


Mural no hall da Reitoria da Universidade Federal de Sergipe.


Hall de entrada do Teatro Atheneu.


Teatro Atheneu.

Publicado originalmente no site infonet/blogs/Silvio Oliveira, em 20/07/2017.
Turismo Cultural: Arte pública de Jenner Augusto

Um passeio pela história dos painéis modernistas de Jenner em

Aracaju está entre os 65 destinos indutores do turismo nacional, por conta de sua boa  infraestrura, mas não se configura ainda como um produto cultural consolidado que atraia turistas por suas manifestações culturais e arte, a exemplo de Salvador, Rio de Janeiro, Recife, Ouro Preto, ou até mesmo da rica em espaços artísticos, São Paulo. O binômio sol e praia, a gastronomia à base de frutos do mar, e os diversos parques e centros comerciais fazem da capital de Sergipe um atrativo em potencial.

Nos últimos anos, os olhares de turistas e sergipanos vêm convergindo para o turismo cultural com a abertura do Centro Cultural de Aracaju, do Palácio Museu Olímpio Campos, do Museu da Gente Sergipana, das galerias de arte, dos cafés culturais, dos memoriais, entre outros espaços.

É crescente o apoio que os órgãos públicos e iniciativas particulares, além das instituições de ensino, vêm concebendo ao reconhecimento do valor cultural do povo sergipano e o que esses espaços representam na construção de uma identidade sergipana, ou seja, da sergipanidade. Mas poucos ainda reconhecem o valor da arte pública, projetada em esculturas, painéis, murais, quadros e estátuas afixados nos espaços públicos.

Os painéis e murais do artista plástico modernista Jenner Augusto é um grande exemplo. Eles também se configuram como uma boa pedida para àqueles que querem conhecer a história do maior representante da arte moderna muralista de Sergipe e um dos expoentes de sucesso nas artes do final do século XX no país.

O Tô no Mundo traz um passeio pelas seis obras públicas de Jenner Augusto, afixadas em prédios e em empresas na capital, Aracaju (SE). São elas: as pinturas do Cacique Chá (1949), do edifício Walter Franco (1957), do prédio da Energisa (1961), do auditório do aeroporto Santa Maria (1962), do hall do Teatro Atheneu (1962) e do hall da reitoria da Universidade Federal de Sergipe (1980).

Painéis, murais e esculturas de rua são representações que entram nos roteiros turísticos de várias cidades, juntamente com seus prédios históricos, por documentarem através de determinada arte um período da história, os hábitos regionais e até mesmo um perfil de um determinado povo, ou seja, é através dessas manifestações artísticas uma fonte de registrar a história.

Basta olhar os espaços históricos do Centro de Aracaju e verificar que eles espelham fatos, formas e perfis de uma determinada época em representações artísticas, a exemplo dos painéis de Jordão de Oliveiral no hall do Palácio Museu Olímpio Campos, dos murais contemporâneos de Titiliano no Centro de Aracaju e da escultura de Fausto Cardoso, primeira estátua posta em praça pública de Sergipe, localizada na praça do mesmo nome. E o que dizer das obras de Jenner Augusto localizadas no antigo Cacique Chá?

Para iniciar essa viagem cultural ao mundo dos murais de Jenner Augusto é importante trazer à tona que Jenner Augusto da Silveira (1924 – 2003) é sergipano de nascimento, filho de professora, e que passou grande parte de sua infância mudando pelas cidades do interior de Sergipe. Humilde, Augusto trabalhou como engraxate, sapateiro, ajudante de alfaiate, pintor de paredes, até começar a fazer cartazes para filmes. A partir daí, verificou-se o despertar de uma arte. O interesse pelas obras de Horácio Hora, pintor estanciano, na década de 40, incentivava a sua pesquisa no campo da pintura. Seus primeiros trabalhos são acadêmicos, já que o contato com o Modernismo já amadurecido no Rio de Janeiro e em São Paulo era quase impossível. Por volta de 45, data de sua primeira exposição, começa a integrar-se no ambiente artístico de Aracaju, mesmo não vendendo sequer um quadro em sua primeira exposição. Em 49 realiza a decoração do Bar Cacique Chá, marco da Arte Moderna no Sergipe, onde aparece clara influência de Portinari. Nesse mesmo ano passa a residir em Salvador (BA).

Em 1951 participa da 1ª Bienal de São Paulo. Dois anos depois executa o painel “Evolução do Homem” no Centro Educacional Carneiro Ribeiro, em Salvador (BA). Expondo no Rio de Janeiro, em 55, conheceu Portinari e Pancetti, que divulgaram o artista no meio artístico. É neste mesmo ano que é apresentado ao maior divulgador de sua arte e um de seus maiores fãs, o escritor Jorge Amado. Jenner Augusto teve influência do baiano na sua vida e na sua obra, sendo o ilustrador do romance Tenda dos Milagres, onde consegue captar a alma dos personagens, ricos e fundamentais elementos formadores da cultura baiana, tão representada pelo universo das personagens criadas pelo escritor baiano.

Jenner Augusto da Silveira sai pelo mundo estabelecendo uma convivência com pintores consagrados (Mário Cravo, Carlos Bastos, Genaro de Carvalho, Carybé, Poty, Rubem Valentim, Pancetti e Portinari), participando de exposições coletivas, realizando suas individuais, ganhando prêmios, medalhas, citações e homenagens, em reconhecimento pela genialidade da sua obra: Medalha de Ouro, no VI Salão Baiano (1956), viagem ao país do Salão Nacional do Rio de Janeiro (1959) e o Grande Prêmio de Pintura, do Salão de Artes Plásticas do Rio Grande do Sul (1962). Nos anos 1960 realizou uma importante exposição com trabalhos abstracionistas no Museu de Arte Moderna na Bahia (MAM-BA).

Em 1962 Jenner veio a Aracaju para pintar os painéis do Hotel Palace de Aracaju (removido para o hall do Teatro Atheneu) e outro no aeroporto de Aracaju. Fez sua primeira individual em São Paulo, no ano de 1965. Ainda nos anos 1960 Jenner viajou para os Estados Unidos e Europa, expondo seus trabalhos.

Em 1995 foi comemorado na Bahia o cinquentenário de suas atividades artísticas. Sua produção artística é caracterizada pela estética modernista, onde predominam temáticas regionalistas representadas a partir de estilizações e manchas de cores contrastantes.

Em 2002, a ONG Sociedade de Estudos Múltiplos Ecológica e de Artes- Sociedade Semear inaugura em Aracaju (SE) uma galeria com seu nome: Galeria Jenner Augusto.

Em 2015 Jenner ganha um memorial em Aracaju, justamente onde era a efervescia da sociedade sergipana: o Cacique Chá.

As principais obras públicas de Jenner em Aracaju estabelecem uma temática nacional por conter traços da economia da época, trabalhadores, paisagens nordestinas e figuras representativas do perfil sergipano, resguardando em pinceladas descendentes de Portinari e Caribé, além do cubismo tridimensional mexicano, em voga na época. Veja os seis painéis ilustrativos desse roteiro cultural em Aracaju:

Cacique Chá – Não é por acaso que o roteiro de turismo cultural representado pelos murais públicos de Jenner deve começar pelo seu memorial. Localizado no anexo do Senac Bistrô Cacique Chá, situado na praça Olímpio Campos, no Parque Teófilo Dantas, no Centro de Aracaju, o espaço é um passeio por documentos, objetos, instrumentos de trabalho, recortes de jornais e revistas do artista, anotações e apontamentos.

No memorial estão também os painéis internos e externos pintados em 1949 e restaurados em 2015. Através deles, Jenner introduziu a arte painelística em Sergipe. Os painéis trazem trabalhadores com um toque dos traços das pinturas de Portinari, em cores que descendem dos tons amarronzados . Além do memorial, o local é cheio de história por lá ser o Cacique Chá, fundado na década de 50, e passando a ser reduto da boêmia sergipana nos anos 80. As obras são tombadas pelo Governo do Estado através de decreto de 1988.

Edifício Walter Franco - O edifício foi erguido em 1956 durante o governo Leandro Maciel e ocupou o espaço do prédio da Recebedoria Estadual, recebendo o painel de Jenner Augusto em 1957.

Primeiramente, o edifício foi construído com a destinação de abrigar as repartições do Governo e era conhecido como Palácio das Secretarias. Edifício de seis andares, o térreo ficou como Recebedoria Estadual, depois foi ocupado em 1982 pelo Banese, foi sede do Ministério Público do Estado por muitos anos.

O painel é o primeiro a ser instalado em praça pública de Sergipe e representa um marco muralista do modernismo no Estado. Sua regionalidade está presente no tema da época: a economia, com a produção agrícola, pescados, coro, caju, trabalhadores em mulas e caçoas. Traz traços cubistas mexicanos, em voga na época, com cerâmica confeccionada pelo artista alemão Udo Knof, que também assina o mural.

Tombado pelo patrimônio público do estado em 1988, poucos sergipanos se atém à qualidade e às particularidades da obra, como a presença de uma pomba branca em um painel pouco colorido, com traços cubistas e a pintura que traz uma tridimensionalidade. A obra é uma das primeiras vanguardista pública do gênero no Nordeste e foi tombada em 1988 pelo Governo de Sergipe.

Em 2010 o mural foi restaurado pelo Banco do Estado de Sergipe, através da empresa AM Restauro, da Bahia, especializada na recuperação de patrimônios históricos.

Teatro Atheneu Sergipense – O cenário primário a ser afixado o painel datado de 1962 foi o restaurante do Hotel Palace, edificação considerada um marco da hotelaria moderna da capital sergipana e que foi aberta ao público neste mesmo ano. Com a deterioração e o fechamento do hotel depois de mais de 30 anos de funcionamento, em 2004 a obra de arte representando a chegada da família real ao Brasil foi transferida para o Teatro Atheneu Sergipense.

Para realizar a complicada transferência, o painel foi cortado em diversos blocos de concreto e transportado até o teatro. Lá, juntaram-se os pedaços, em 2012 o Governo de Sergipe, através da empresa AM Restauro, conseguiu realizar a limpeza e restauro. Todo o processo durou em torno de quatro meses. O Executivo Estadual também tombou a obra em 1988.

Energisa -  A obra é uma das mais representativas do gênero do Estado em pintura de azulejo, intitulada “Os Primeiros Habitantes de Sergipe”, concebida em 1961 para o antigo saguão do aeroporto Santa Maria, em Aracaju, na época passando pela primeira ampliação da pista de pouso e do terminal de passageiros, sendo inaugurado em 1962. Naquela época, Aracaju contava com um dos mais modernos aeroportos do Nordeste.

Com a segunda reforma e aparelhamento do aeroporto em 1996, obra inaugurada em 1998, o painel foi transferido do saguão do aeroporto para a empresa Energisa, estatual de energia do estado de Sergipe. Em 2003 o Estado tombou o patrimônio público e em 2008 passou por novo restauro.

Mesmo sendo um patrimônio público, a empresa solicita autorizo da presidência para realizar visitação, fazendo com que muitos sergipanos e turistas deixem de conhecer uma das principais obras do artista sergipano.

Aeroporto de Aracaju – Em 1962 Jenner presenteou o aeroporto com mais uma obra. Desta vez, no auditório da estação aeroportuária. A obra não é acessível ao grande público e não apresenta uma data da pintura visível. Contando com traços da cultura sergipana, a exemplo de trabalhadores da cana de açúcar, do gado e do coco, a obra traz uma pintada ruralista em cores fortes e com a assinatura do artista do lado direito.

O monumento é mais um registro documental de Sergipe de uma determinada  época, pois nele preserva-se um dado momento social, com um determinado recorte temporal sócioeconomico do Estado.

Reitoria da UFS – Um dos painéis mais recentes do artista, datado em 1980, faz alusão aos brincantes do grupo folclórico parafusos de Lagarto, de prédios históricos de São Cristóvão, além de traços acadêmicos, a exemplo de jovens em solenidade de formatura e em atividades esportivas.

A painel partiu de um quadro menor presenteado anteriormente pelo artista ao reitor Aloísio de Campos, como forma de que o reitor tivesse a noção de como seria o trabalho final. Em 2015 a obra em miniatura foi restaurada pelo filho de Jenner Augusto, Guel Silveira, e entregue novamente a UFS. O painel final não foi restaurado ainda e preserva inestimável valor histórico e artístico, tombado pelo patrimônio público estadual em 2003.

Gastroterapia

Entre as opções ainda estão os pratos tradicionais do Bistrô, que integram o cardápio do Cacique Chá desde sua primeira inauguração, em 1950: Vaca Atolada de Jenner Augusto (o prato preferido do artista), o Cozido Sergipano e o Cachorro-quente de “ Seu João do Parque” Mas o que me conquistou de verdade foram as sobremesas. Fiquei fã… do sabor e do preço – R$ 6,50 o Browne de amêndoas com sorvete de tapioca agora, qualquer voltinha pelo Centro termina com um docinho no Cacique chá.

Fontes:

http://www.institutomarcelodeda.com.br/banese-restaura-mais-um-patrimonio-historico-cultural-de-sergipe/ -

http://www.institutomarcelodeda.com.br/governo-restaura-painel-de-jenner-augusto-no-teatro-atheneu/

http://sergipeeducacaoecultura.blogspot.com.br/2012/03/baianidade-de-jenner-augusto.html

CARDOSO, Amâncio; ALVES, José Francisco. “Um marco da arte moderna em Sergipe: mural de azulejos do Edifício Walter Franco”, 2016.

BRITTO, Mário; FERNANDES, Zeca (Org). Jenner Augusto: vida e obra. Aracaju: Sociedade Semear, 2012.
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Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/silviooliveira

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