Discursos e Práticas de Modernização em Aracaju nas
primeiras décadas do século XX e seus Reverses.
Lais dos Santos Nascimento
Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe
E-mail: nascimentolais@hotmail.com
Este trabalho tem como objetivo completar as atividades da
matéria Temas em História de Sergipe II, que tem como orientador o professor
Dr. Antônio Lindvaldo Sousa. Mais também, tem como finalidade o entendimento
não só dos discursos e práticas de modernização em Aracaju nas primeiras
décadas do século XX, como também os reverses que ocorreram nesse período na
capital sergipana. E para mostrar tudo isso utilizaremos como textos base as
revistas de nº 35 e 40 do IHGSE, o livro (romance) “Os Corumbas” de Amando
Fontes e os textos da aula seis, da aula oito e da dez do livro “Temas em
História de Sergipe II” do prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa.
Segundo Sousa, Aracaju nasceu em 1855 em função de um porto
que atendesse às necessidades de escoamento da produção açucareira do vale do
Cotinguiba. E que nesse período a capital de Sergipe, ainda não apresentava
mudanças urbanísticas que lhe dessem o caráter de um moderno centro
administrativo e isso só foi acorrer no início do século XX. Sousa diz ainda
que, foi nas primeiras décadas deste século que Aracaju começou a corresponder
à imagem idealizada pelos que a criaram. Impôs-se como principal centro
urbanístico do Estado, superando a imagem da cidade inviável cheia de lagoas,
dunas e pântanos onde proliferavam mosquitos causadores de “febres”.
Recuperou-se a crença de que a cidade representava uma nova fase da vida
sergipana e a convicção de um futuro promissor para a capital que deveria
superar o “atraso” de mais de cinquenta anos.
Nas primeiras décadas do século XX, Aracaju teve e passou
por vários discursos e praticas de modernização, e a área da saúde não poderia
ficar de fora. O Dr. Helvécio de Andrade em seu livro “A medicina em Sergipe
durante um século”, diz que nas primeiras décadas do século XX a medicina e as
condições de saúde no Estado de Sergipe se encontravam bastante distanciadas
dos avanços do seu tempo movido por interesses pessoais, esquecida dos valores
morais e dos conhecimentos científicos. Predominava em certas situações a noção
das rezas, do quebranto, aspersões de galhos de arruda. Nessa época, em Sergipe
existiam pouquíssimos médicos.
Segundo o livro de
Medicina de Sergipe, Aracaju neste período só possuía um hospital, o Santa
Isabel, mas que estava em precárias condições de funcionamento. Com isso ficou
fácil pro médico Augusto Leite convencer ao governador do estado, Graccho
Cardoso de quem o Dr. Augusto Leite tinha uma afinidade política, a construir
um hospital moderno e condizente com os avanços da medicina da época. Assim,
surgiu a decisão de criar o Hospital de Cirurgia, inaugurado em maio de 1926.
Segundo Fabrícia de Oliveira Santos um dos melhores exemplos
desse projeto modernizador realizado no Estado de Sergipe foi à gestão
governamental de Graccho Cardoso, exercido de 1922 a 1926. Necessário ressaltar
que a cidade de Aracaju já nas primeiras duas décadas do século XX começasse a
receber mesmo de forma incipiente os primeiros serviços de infra-estrutura,
como bondes, trem, rede de esgoto, água encanada em algumas localidades,
iluminação, e os famosos aterros dos pântanos.
A educação também passou por inovações e a Pedagogia Moderna
chega à Aracaju com os lemas: civilizar, regenerar, educar os sentidos e
higienizar. Helvécio de Andrade foi o médico-educador, que ajudou a inserir
esse método educacional republicano em Sergipe e em especial em Aracaju. Por
esse trabalho o médico e educador foi convidado em 1911 pra ser professor de
Pedagogia, Pedologia e Noções de Higiene Escolar na Escola Normal, instituição
que em 1914 Helvécio de Andrade tornou-se diretor*.
Também no campo educacional foi criada uma escola que visava
o trabalho, ou seja, os alunos já saiam de lá com uma profissão. Era a Escola
Federal de Aprendizes e Artífice, que segundo Sousa, foi inaugurada no dia 1º
de maio de 1911, e que funcionaria com aulas de alfaiataria e mecânica. O Dr.
Augusto Leite fez e lia um discurso representando outros sergipanos
responsáveis pela realização dessa instituição de ensino. Cumprimentando a
todos que compareciam àquele ato, ele falava:
À solenidade a que viestes assistir, empreendendo a grandeza
e o esplendor da vossa presença, um marco firmará na história do progresso de
Sergipe. Inaugura-se hoje o primeiro instituto profissional do nosso Estado.
Tão auspicioso acontecimento registramo-lo como o início eloqüente de uma nova
fase em que se nos descerá, no lineamento firme de um horizonte amplíssimo, um
futuro cheio de promessas benfazejas, asseguradas pela difusão larga e
inteligente da instrução- a garantia primacial (sic) da vida e do enlevamento
moral de um povo (...). Nenhuma data se nos depararia mais propícia e mais
adequada que a de hoje para a inauguração da Escola de Aprendizes e Artífices
do nosso Estado. É a nossa festa uma eloqüente homenagem ao trabalho. Daqui
sairão os operários de amanhã, verdadeiros cidadãos, dignos desta grande
pátria- o Brasil, por cujo progresso e futuro tanto anseia os nossos corações.
Associemo-nos, pois, às festas do dia e glorifiquemos o trabalho. (Correio de
Aracaju, 05 de maio de 1911).
É importante que fique claro que, não foi por acaso que essa
escola foi inaugurada logo no dia do trabalhador. Claro que a elite tinha seus
planos por trás dessa obra.
Falamos de saúde, educação e os melhoramentos que ocorreram
na cidade de Aracaju nas primeiras décadas do século XX, mais tudo isso visto
do lado dos grandes homens, e as pessoas pobres que viviam nessa cidade? O que
aconteceu com elas e qual a versão delas? Pois é, Aracaju que se tornou a
primeira cidade planejada do Brasil, tendo em seus moldes ruas planas e retas.
Cidade nascida dos mangues, pântanos e lagoas, tem reverses em sua história que
não encontramos na versão oficial, pois, para conseguir ficar nos moldes
modernos teve que expulsar as pessoas pobres, que já moravam por lá, para os
morros próximos. E não aceitava os homens pobres que vinham do interior, pois
estes também não atendiam as exigências do "código de posturas
municipal", e como os antigos
moradores pobres de Aracaju, erguem seus casebres no lado norte da cidade*.
Aracaju discriminou os negros e pobres durante o seu
processo de urbanização e industrialização, sem acesso as escolas e nem a
informação o que restava pra estas pessoas eram os trabalhos nas industrias
têxteis que haviam se instalado em Aracaju. Amando Fontes em seu romance Os
Corumbas mostra as condições financeiras de uma família depois que ela se instalou
na capital, e fica claro aos leitores, que não são nada boas, mesmo com quatro
pessoas da família trabalhando na Companhia Sergipana de Fiação. Assim o autor
mostra como era a vida dos trabalhadores das fábricas de Aracaju (1920-1930)
que sofriam uma exploração da força do trabalho, pois está era muito barata.
Amando Fontes fala também das origens dos trabalhadores das fábricas
aracajuanas: "Eram praieiros de São Cristovão e Itaporanga; camponeses do
Vaza-Barris, da Cotinguiba; sertanejos de Itabaiana e das Caatingas-que, num
dia ou noutro, tangidos pela mais áspera miséria, haviam desertado de seus
lares, na esperança de uma vida melhor pelas cidades (...)" (Fontes, 1994,
pg.19). Fontes mostra ainda com esse romance como eram as madrugadas do bairro Santo
Antônio naquele período: "(...)Tudo escuro ainda. Bandos e bandos de
raparigas falando alto, desciam a Estrada Nova. Dos recantos e vielas que ali
desembocavam, de momento a momento, surgiam vultos apressados. Todo o bairro de
Santo Antônio parecia levantado, a correr pro trabalho." (Fontes,1994,
pg.18).
Vimos claramente que os grandes homens com seus discursos e
práticas de modernização, não estavam realmente preocupados com os homens e
mulheres pobres que, de uma forma ou de outra também ajudaram na modernização
de Aracaju. E que esses homens pobres que não tinham acesso a educação e nem
aos benefícios da modernização em Aracaju, sofriam pela exploração em seus
trabalhos nas fábricas têxteis e sofriam também pela exclusão e preconceito por
parte da elite.
REFERÊNCIA:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II.
“AVE BRANCA QUE VOA DOS PÂNTANOS PARA O AZUL...”: As elites e o processo
modernizador de Aracaju nas décadas de 1910 a 1930. São Cristovão: Universidade
Federal de Sergipe/CESAD. 2010, págs.113-126.
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II.
“PARTE DO OUTRO LADO DA MODERNIZAÇÃO...”: Aracaju e os homens pobres nas
primeiras décadas do século XX. São Cristovão: Universidade Federal de
Sergipe/CESAD. 2010, págs.147-160.
SOUSA, Antônio
Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II. “NAS FIMBRAS DA ORDEM E DO
PROGRESSO...”:outras “vozes” e “histórias de vidas” diferentes dos agentes da
modernização em Aracaju. São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD.
2010, págs.179-200.
Fontes, Amando, Os
Corumbas. In: Amando Fontes, 19º Ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio
Editora, 1994.
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. Luz elétrica, asseio e
prontidão: fragmentos da modernização em Aracaju (1910-1920). Revista de
Aracaju. Ano LX, nº10. Prefeitura Municipal de Aracaju/FUNCAJU: Aracaju, 2003.
ARTIGOS:
História da medicina em Sergipe. A Academia sergipana de
medicina foi a responsável pela obra. (pdf)
A DIFUSÃO DA PEDAGOGIA MODERNA EM SERGIPE: A contribuição de
Helvécio de Andrade (1913-1935). Escrito por Cristina de Almeida Valença.
Sites visitados:
www.ihgse.org/revistas/35.pdf, visitado no dia 07/06/20012
ás 12:40h.
www.ihgse.org/revistas/40.pdf, visitado no dia 07/06/2012 ás
12:45h.
Texto e imagem reproduzidos do blog: nascimentolais.blogspot.com.br
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