quarta-feira, 5 de julho de 2017

Discursos e Práticas de Modernização em Aracaju...


Discursos e Práticas de Modernização em Aracaju nas primeiras décadas do século XX e seus Reverses.

Lais dos Santos Nascimento
Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe
E-mail: nascimentolais@hotmail.com

Este trabalho tem como objetivo completar as atividades da matéria Temas em História de Sergipe II, que tem como orientador o professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa. Mais também, tem como finalidade o entendimento não só dos discursos e práticas de modernização em Aracaju nas primeiras décadas do século XX, como também os reverses que ocorreram nesse período na capital sergipana. E para mostrar tudo isso utilizaremos como textos base as revistas de nº 35 e 40 do IHGSE, o livro (romance) “Os Corumbas” de Amando Fontes e os textos da aula seis, da aula oito e da dez do livro “Temas em História de Sergipe II” do prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa.

Segundo Sousa, Aracaju nasceu em 1855 em função de um porto que atendesse às necessidades de escoamento da produção açucareira do vale do Cotinguiba. E que nesse período a capital de Sergipe, ainda não apresentava mudanças urbanísticas que lhe dessem o caráter de um moderno centro administrativo e isso só foi acorrer no início do século XX. Sousa diz ainda que, foi nas primeiras décadas deste século que Aracaju começou a corresponder à imagem idealizada pelos que a criaram. Impôs-se como principal centro urbanístico do Estado, superando a imagem da cidade inviável cheia de lagoas, dunas e pântanos onde proliferavam mosquitos causadores de “febres”. Recuperou-se a crença de que a cidade representava uma nova fase da vida sergipana e a convicção de um futuro promissor para a capital que deveria superar o “atraso” de mais de cinquenta anos.

Nas primeiras décadas do século XX, Aracaju teve e passou por vários discursos e praticas de modernização, e a área da saúde não poderia ficar de fora. O Dr. Helvécio de Andrade em seu livro “A medicina em Sergipe durante um século”, diz que nas primeiras décadas do século XX a medicina e as condições de saúde no Estado de Sergipe se encontravam bastante distanciadas dos avanços do seu tempo movido por interesses pessoais, esquecida dos valores morais e dos conhecimentos científicos. Predominava em certas situações a noção das rezas, do quebranto, aspersões de galhos de arruda. Nessa época, em Sergipe existiam pouquíssimos médicos.

 Segundo o livro de Medicina de Sergipe, Aracaju neste período só possuía um hospital, o Santa Isabel, mas que estava em precárias condições de funcionamento. Com isso ficou fácil pro médico Augusto Leite convencer ao governador do estado, Graccho Cardoso de quem o Dr. Augusto Leite tinha uma afinidade política, a construir um hospital moderno e condizente com os avanços da medicina da época. Assim, surgiu a decisão de criar o Hospital de Cirurgia, inaugurado em maio de 1926.

Segundo Fabrícia de Oliveira Santos um dos melhores exemplos desse projeto modernizador realizado no Estado de Sergipe foi à gestão governamental de Graccho Cardoso, exercido de 1922 a 1926. Necessário ressaltar que a cidade de Aracaju já nas primeiras duas décadas do século XX começasse a receber mesmo de forma incipiente os primeiros serviços de infra-estrutura, como bondes, trem, rede de esgoto, água encanada em algumas localidades, iluminação, e os famosos aterros dos pântanos.

A educação também passou por inovações e a Pedagogia Moderna chega à Aracaju com os lemas: civilizar, regenerar, educar os sentidos e higienizar. Helvécio de Andrade foi o médico-educador, que ajudou a inserir esse método educacional republicano em Sergipe e em especial em Aracaju. Por esse trabalho o médico e educador foi convidado em 1911 pra ser professor de Pedagogia, Pedologia e Noções de Higiene Escolar na Escola Normal, instituição que em 1914 Helvécio de Andrade tornou-se diretor*.

Também no campo educacional foi criada uma escola que visava o trabalho, ou seja, os alunos já saiam de lá com uma profissão. Era a Escola Federal de Aprendizes e Artífice, que segundo Sousa, foi inaugurada no dia 1º de maio de 1911, e que funcionaria com aulas de alfaiataria e mecânica. O Dr. Augusto Leite fez e lia um discurso representando outros sergipanos responsáveis pela realização dessa instituição de ensino. Cumprimentando a todos que compareciam àquele ato, ele falava:

À solenidade a que viestes assistir, empreendendo a grandeza e o esplendor da vossa presença, um marco firmará na história do progresso de Sergipe. Inaugura-se hoje o primeiro instituto profissional do nosso Estado. Tão auspicioso acontecimento registramo-lo como o início eloqüente de uma nova fase em que se nos descerá, no lineamento firme de um horizonte amplíssimo, um futuro cheio de promessas benfazejas, asseguradas pela difusão larga e inteligente da instrução- a garantia primacial (sic) da vida e do enlevamento moral de um povo (...). Nenhuma data se nos depararia mais propícia e mais adequada que a de hoje para a inauguração da Escola de Aprendizes e Artífices do nosso Estado. É a nossa festa uma eloqüente homenagem ao trabalho. Daqui sairão os operários de amanhã, verdadeiros cidadãos, dignos desta grande pátria- o Brasil, por cujo progresso e futuro tanto anseia os nossos corações. Associemo-nos, pois, às festas do dia e glorifiquemos o trabalho. (Correio de Aracaju, 05 de maio de 1911).

É importante que fique claro que, não foi por acaso que essa escola foi inaugurada logo no dia do trabalhador. Claro que a elite tinha seus planos por trás dessa obra.

Falamos de saúde, educação e os melhoramentos que ocorreram na cidade de Aracaju nas primeiras décadas do século XX, mais tudo isso visto do lado dos grandes homens, e as pessoas pobres que viviam nessa cidade? O que aconteceu com elas e qual a versão delas? Pois é, Aracaju que se tornou a primeira cidade planejada do Brasil, tendo em seus moldes ruas planas e retas. Cidade nascida dos mangues, pântanos e lagoas, tem reverses em sua história que não encontramos na versão oficial, pois, para conseguir ficar nos moldes modernos teve que expulsar as pessoas pobres, que já moravam por lá, para os morros próximos. E não aceitava os homens pobres que vinham do interior, pois estes também não atendiam as exigências do "código de posturas municipal",  e como os antigos moradores pobres de Aracaju, erguem seus casebres no lado norte da cidade*.

Aracaju discriminou os negros e pobres durante o seu processo de urbanização e industrialização, sem acesso as escolas e nem a informação o que restava pra estas pessoas eram os trabalhos nas industrias têxteis que haviam se instalado em Aracaju. Amando Fontes em seu romance Os Corumbas mostra as condições financeiras de uma família depois que ela se instalou na capital, e fica claro aos leitores, que não são nada boas, mesmo com quatro pessoas da família trabalhando na Companhia Sergipana de Fiação. Assim o autor mostra como era a vida dos trabalhadores das fábricas de Aracaju (1920-1930) que sofriam uma exploração da força do trabalho, pois está era muito barata. Amando Fontes fala também das origens dos trabalhadores das fábricas aracajuanas: "Eram praieiros de São Cristovão e Itaporanga; camponeses do Vaza-Barris, da Cotinguiba; sertanejos de Itabaiana e das Caatingas-que, num dia ou noutro, tangidos pela mais áspera miséria, haviam desertado de seus lares, na esperança de uma vida melhor pelas cidades (...)" (Fontes, 1994, pg.19). Fontes mostra ainda com esse romance como eram as madrugadas do bairro Santo Antônio naquele período: "(...)Tudo escuro ainda. Bandos e bandos de raparigas falando alto, desciam a Estrada Nova. Dos recantos e vielas que ali desembocavam, de momento a momento, surgiam vultos apressados. Todo o bairro de Santo Antônio parecia levantado, a correr pro trabalho." (Fontes,1994, pg.18).

Vimos claramente que os grandes homens com seus discursos e práticas de modernização, não estavam realmente preocupados com os homens e mulheres pobres que, de uma forma ou de outra também ajudaram na modernização de Aracaju. E que esses homens pobres que não tinham acesso a educação e nem aos benefícios da modernização em Aracaju, sofriam pela exploração em seus trabalhos nas fábricas têxteis e sofriam também pela exclusão e preconceito por parte da elite. 

REFERÊNCIA:
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II. “AVE BRANCA QUE VOA DOS PÂNTANOS PARA O AZUL...”: As elites e o processo modernizador de Aracaju nas décadas de 1910 a 1930. São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD. 2010, págs.113-126.
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II. “PARTE DO OUTRO LADO DA MODERNIZAÇÃO...”: Aracaju e os homens pobres nas primeiras décadas do século XX. São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD. 2010, págs.147-160.
 SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II. “NAS FIMBRAS DA ORDEM E DO PROGRESSO...”:outras “vozes” e “histórias de vidas” diferentes dos agentes da modernização em Aracaju. São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe/CESAD. 2010, págs.179-200.
 Fontes, Amando, Os Corumbas. In: Amando Fontes, 19º Ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1994.
SANTOS, Fabrícia de Oliveira. Luz elétrica, asseio e prontidão: fragmentos da modernização em Aracaju (1910-1920). Revista de Aracaju. Ano LX, nº10. Prefeitura Municipal de Aracaju/FUNCAJU: Aracaju, 2003.
ARTIGOS:
História da medicina em Sergipe. A Academia sergipana de medicina foi a responsável pela obra. (pdf)
A DIFUSÃO DA PEDAGOGIA MODERNA EM SERGIPE: A contribuição de Helvécio de Andrade (1913-1935). Escrito por Cristina de Almeida Valença.

Sites visitados:
www.ihgse.org/revistas/35.pdf, visitado no dia 07/06/20012 ás 12:40h.
www.ihgse.org/revistas/40.pdf, visitado no dia 07/06/2012 ás 12:45h.

Texto e imagem reproduzidos do blog: nascimentolais.blogspot.com.br

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